Trata-se,
na origem, de ação civil pública (ACP) ajuizada pelo MP estadual cujo
pedido inicial era a declaração de nulidade de cláusula de contrato
celebrado no ano de 1996 e consequente condenação da empresa de
telefonia (ré) a restituir a cada um dos consumidores lesados a quantia
apurada em execução de sentença, relativa à diferença entre o valor das
ações disponibilizadas e o montante investido na aquisição das linhas
telefônicas, com os acréscimos legais devidos, haja vista ter o Parquet
constatado, em procedimento investigatório, que milhares de
consumidores ficaram prejudicados com a flagrante escolha unilateral da
fornecedora pela cessão de ações de uma empresa, e não de outra, em que o
valor delas é bem inferior ao capital investido. Na primeira instância,
o pedido foi julgado procedente, sendo a sentença mantida pelo tribunal
a quo. Nesse descortino, foi interposto o REsp no qual,
preliminarmente, sustentou-se a ilegitimidade ativa do MP para ajuizar a
ação coletiva – ao argumento de que a controvérsia relativa à entrega
de ações nos contratos de participação financeira não é de natureza
consumerista, mas societária – e a ilegitimidade passiva da empresa
recorrente – sob a alegação de que as obrigações pleiteadas foram
assumidas antes da data da cisão e são de exclusiva responsabilidade de
outra empresa, conforme edital de privatização. No mérito, aduziu a
sociedade empresária recorrente que a obrigação é alternativa, cabendo
ao devedor a escolha da prestação e dela se liberando com o cumprimento
de qualquer uma, bem como que não seria conferido ao potencial acionista
o direito de opinar sobre a forma da emissão das ações. A Turma
conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento para julgar
improcedente o pedido deduzido na ACP, afastando, primeiramente, as
preliminares suscitadas. A primeira preliminar foi rejeitada porque os
direitos postos em lide são classificados como individuais homogêneos,
pois derivam de origem comum, qual seja, o contrato de aquisição de
linhas telefônicas com participação financeira dos adquirentes no
capital da sociedade, não havendo falar, assim, em ilegitimidade do Parquet
para o ajuizamento da ACP, consoante o art. 81, parágrafo único, III,
do CDC. A segunda também foi afastada porque, após breve exposição
histórica do processo de privatização e reestruturação do sistema de
telecomunicações do Brasil, concluiu-se não ser aplicável à hipótese a
exceção prevista no parágrafo único do art. 233 da Lei n. 6.404/1976
(Lei das S/A), e sim a regra constante do caput, qual seja, a
solidariedade em virtude de que os alegados créditos ora tratados na
demanda ainda não existiam por ocasião da cisão, porquanto originados de
obrigações anteriores. No mérito, contudo, reconheceu-se assistir razão
à recorrente, entre outros argumentos, ante a ausência de demonstração
cabal nos autos acerca do alegado prejuízo sofrido pelos consumidores
compradores de linhas telefônicas, o qual decorreu de flutuações
naturais do mercado de capitais. Além disso, não há garantia de que, se a
cláusula reputada como abusiva inexistisse, ou seja, se fosse dada ao
comprador a faculdade de escolher qual ação seria emitida, o consumidor
também não optaria pelas mesmas ações, ou, ainda no caso de opção pelas
outras ações, o dinamismo do mercado mobiliário conduziria a um prejuízo
ainda maior em determinado espaço de tempo. Por fim, registrou-se que a
potestatividade prevista no contrato não é aquela apta a ensejar
nulidade, pois não se trata de cláusula “potestativa pura”, e sim de
“simplesmente potestativa”. Precedentes citados: Ag 1.175.150-RS, DJe
28/8/2009; REsp 1.057.477-RN, DJe 2/10/2008; REsp 470.443-RS, DJ
22/9/2003; AgRg no Ag 1.323.205-SP, DJe 10/11/2010; REsp 706.791-PE, DJe
2/3/2009; REsp 478.824-RS, DJ 19/9/2005, e REsp 849.228-GO, DJe
12/8/2010.
REsp 753.159-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/4/2011.
REsp 753.159-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/4/2011.
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